" TUDO PODE AQUELE QUE CRÊ EM DEUS"

"Daqui a cem anos, não importará o tipo de carro que dirigi, o tipo de casa em que morei , quanto tinha depositado no banco, nem que roupas vesti. Mas o mundo pode ser um pouco melhor porque eu fui importante na vida de uma criança"
Anônimo

Educação para a infância


Atenção, abrir em uma nova janela. PDFImprimirE-mail
Gostar de criança: Princípio fundamental para ser um educador da infância
É inegável que para ser um bom educador da infância é necessário ter uma formação acadêmica consistente, mas gostar de criança é condição "sine qua non", indispensável na realização de um trabalho que deve ser eminentemente permeado pelo afeto. A ausência do afeto implica em não desenvolver e não sentir o prazer do gostar e, principalmente, de estar com o outro.
Analogicamente imagine dois profissionais: um médico cirurgião tem as mais indispensáveis formações para realizar uma cirurgia, mas não gosta e não tem a habilidade para trabalhar com os instrumentos cirúrgicos. Um educador da infância que se forma para trabalhar com crianças e não tem o prazer de estar com os pequenos. Quais seriam os resultados?
Não basta ter uma boa formação para estar com um grupo de crianças da Educação Infantil várias horas por dia, meses, anos; é preciso que esteja implícito e explícito no educador o gosto pelo seu fazer, assim como ter o prazer em se relacionar com crianças, qualidade fundamental de um profissional que trabalha com a infância. O educador encantado pelo que faz, encanta a criança com a sua ação, emoção e atitude.
Há alguns questionamentos que o profissional da infância deve fazer a si mesmo: Que prazer eu sinto na convivência com crianças? O que eu penso em relação ao trabalho do educador da infância? Quais são as minhas crenças de que para este período da vida do ser humano é fundamental que a criança tenha ao seu lado um profissional com conhecimento, competências, habilidades e prazer em conviver, ser, viver e, sobretudo, descobrir o mundo com a criança para que juntos possam realizar um trabalho pautado nas necessidades de um desenvolvimento pleno, de uma construção autônoma, alicerçada na cooperação e no aprendizado de uma convivência harmoniosa.
Um profissional da infância que sente desconforto ao ter que cantar com as crianças, ao realizar junto com os pequenos jogos de imitação, ao sentar-se no chão para brincar, ao estar na caixa de areia realizando jogos simbólicos, ao participar de jogos dramatizados, ao dançar junto com o grupo nas atividades e dias comemorativos, ao limpar um nariz escorrendo, ao trocar uma fralda, ao banhar uma criança terá que rever a sua escolha profissional, porque desconfortos nos levam a ações mecanizadas, sem cumplicidade, e quando esse jeito de ser está presente em nós, tudo fica mais difícil no campo das relações, afasta o outro e não constrói laços e identificação das crianças para com o profissional da educação.
A realidade para um educador que não sente prazer realizando trabalhos com crianças pequenas no espaço da Educação Infantil é estar em constante conflito com o seu lado profissional, não demonstrando interesse em continuar aprendendo sobre crianças pequenas, além de não se apresentar inteiro nos momentos de formação continuada, o que provavelmente culminará em um educador da infância sem referências e que não privilegia a construção de valores.
Todo ser humano, criança ou adulto, tem potenciais invisíveis que se fazem visíveis quando se permite desabrochar. O desabrochar está intimamente ligado ao prazer, ao encantamento na realização de ações de construções e de aprendizagens, demonstrando que essa metamorfose constrói mundos no interior do ser, nas relações e nos coletivos. Quando não há dentro do educador um potencial que evidencie o prazer pleno de estar com crianças, não haverá vida no ato de ensinar e de aprender, assim como, de construir identidades humanas.
A criança é feita de potenciais invisíveis, prontos para se desenvolverem por meio de oportunidades, para tanto, necessitam de espaços para crescer, de pessoas que a acolham com competência, gosto e prazer, que possibilitem que seja construída primeiramente como criança respeitada no seu ciclo de vida.
O profissional da infância deve ter a consciência de que é parte dos sucessos que a pessoa conquistará no mundo, e que seremos consequência do que se inicia no ciclo da infância porque nesse ciclo estão os primeiros passos de todos os ciclos da vida e o princípio de uma caminhada pela vida física, cognitiva, relacional, emocional e espiritual.
Ao educar uma criança, um ser em desenvolvimento, aprendendo com o mundo e com as pessoas, precisamos evitar autoritarismos, distanciamentos, ignorâncias, desafetos, falhas, indiferenças porque tudo isso não pode ser apagado, deletado como se fosse um erro banal de digitação.
O profissional da educação da infância é um leitor de símbolos e significados infantis, deve ser afetivo, prazeroso, que transparece de forma visível o sentimento do gostar de estar com as crianças, um "jeito de ser criança", revelando posturas que certamente favoreçam as relações dialógicas e de construções, facilitando o desenvolvimento qualitativo e emocional. A criança emocionalmente bem resolvida se sente fortalecida para o ato de aprender e para ser o sujeito de si mesma.
O mundo e as pessoas são resultados de causa e efeito; a criança é sensível por natureza, sente quando o educador não é natural, não é espontâneo, inteiro e feliz, suas reações exteriores revelam o seu interior e deixam transparecer o "não sinto prazer no meu fazer". O sentir prazer, ou não sentir, pelas relações, não pode ser escondido quando se convive rotineiramente porque facilmente serão desmistificados, porque o prazer é energia que se apresenta em forma de vibrações percebíveis e prazerosas para os envolvidos.
As nossas posturas são anúncios formais do que somos, apresentam de modo visível intenções e o curso das ações que vamos adotar com os educandos. As ações que executamos produzem sentidos que fazem parte do nosso jeito de ser, portanto somos responsáveis pelos resultados. Para que o educador da infância obtenha conquistas com crianças pequenas é necessário que a plenitude do gostar esteja presente em todas as ações.
O prazer vive em nosso mundo interior e a partir de dentro nós é que criamos o nosso modo de ser exterior. Nosso exterior é um espelho que produz informações, reflexos positivos e negativos, que afasta ou aproxima as pessoas que serão observadas, imitadas ou não, que despertarão confiança ou desconfiança, que conduzirão a sentimentos, sensibilidades e ações e, como educadores, sabemos que "jeito de ser sem gosto pelo que somos" será um ponto de reflexão e referência para as crianças.
A criança em convivência com o mundo e com as pessoas constrói seus pensamentos a partir das informações visuais, auditivas e cinestésicas que ficam "arquivadas" em seu interior, e lhe servirão de base e princípios para as suas respostas às necessidades do seu mundo.
O ser humano sempre determina seu jeito de ser. A emoção e o prazer em conviver com as crianças levam o profissional a ter pensamentos significativos e criativos ao planejar um trabalho. O gosto pelo fazer e pelas relações favorece a felicidade profissional, condição para o sucesso e para conseguir o que se quer. Um educador feliz faz alegria, faz vida, faz com que o seu fazer tenha sentido para o aprendiz, além de se sentir pleno com a própria ação.
Percebemos, ao propor reflexões nos cursos de formação que ministramos juntos às Secretarias Municipais de Educação, dois tipos marcantes de comportamento: determinados profissionais se empolgam, envolvem-se, produzem, debatem, apresentam ideias e, outros, permanecem passivos, desinteressados, sem gosto em participar e aprender. O primeiro, quando indagados sobre o seu fazer, revelam prazer, gosto pelo trabalho, vibram com as aprendizagens das crianças, com seus eternos aprendizes. O segundo grupo com um comportamento mais passivo revela uma postura de indiferença quando levado a reflexões sobre crianças, quase sempre deixam claro que não se sentem felizes com o seu trabalho.
Fica óbvio que o bom profissional que tem gosto pelo seu fazer com as crianças é sempre diferenciado, tem vontade em aprender, quer desaprender os superados modos de ser educador da infância, e sempre traz consigo um prazer imenso por ser educador.
Acreditamos que para ser um verdadeiro Educador da infância o gostar de criança deva ser um dos princípios fundamentais para a construção da sua identidade profissional.
Por Emilia Cipriano e Claudio Castro Sanches
Emilia Cipriano é Doutora em Educação, Mestre em Psicologia da Educação e Pesquisadora da Infância.

Nenhum comentário:

Postar um comentário